Arte

Vincent Moon fala sobre cinema, identidades e sessão no AfroTranscendence

08out

por Red Bull Station

Nascido na França, o cineasta Vincent Moon tem viajado o mundo nos últimos anos fazendo o cinema da “não-preparação”, como ele gosta de chamar. “Minha maneira de fazer cinema é realmente não preparar, é o que gosto de fazer”, diz.

Na noite desta quinta-feira (8), após um dia de workshop, ele faz uma sessão comentada de parte desta produção no Red Bull Station. A exibição integra o AfroTranscendence, evento com palestras e cinema que ocorre entre hoje (8) e sábado (10), idealizado para promover a cultura afro-brasileira contemporânea.

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Moon foi o principal diretor do “Concerts a Emporter”, do site La Blogothèque, um projeto online de filmes musicais com diversas bandas e artistas. Entre 2009 e 2013, rodou muitos países com sua câmera na mochila, registrando cenas folclóricas, músicas sagradas e rituais religiosos. No momento, vem trabalhando em um grande projeto sobre espiritualidade.

Aproveitando a presença dele por aqui, batemos um papo sobre este assunto, sobre identidades e “olhar estrangeiro”, e o francês também antecipou um pouquinho o que haverá na exibição desta quinta-feira.

Vincent, como vai ser a sessão hoje à noite?

Eu fui convidado pela Diane [Lima, curadora do AfroTranscendence]. Vou mostrar diferentes coisas daqui, talvez do Peru, da Colômbia e da África. Eu amo improvisar, acho que vamos falar sobre várias coisas, mas não estou preparando muito.

Os filmes que você vai apresentar foram feitos nos anos mais recentes?

É uma mistura total. Já tem vários anos que estou viajando no Brasil, agora estou fazendo um grande projeto sobre o sagrado, então tem muito a ver com todas as religiões de matriz africana. Vou mostrar algumas coisas desse projeto. Ainda é um pouco cedo para mostrar coisas dele, mas todas as manifestações espirituais que têm no Maranhão, no Sul do país também, que são incríveis e não são muito famosas. Não tem muita gente que conhece o Terecô, do Maranhão, ou o Almas e Angolas, de Santa Catarina. Mas são coisas incríveis, únicas.

Essas manifestações que você falou não são muito conhecidas nem aqui. Como estrangeiro, você acha que, de certa forma, tem mais facilidade pra se conectar com elas?

Quando você é parte da coisa, não enxerga o todo. Acho que ser um estrangeiro atualmente é como ser um ‘outsider’, e eu adoro essa posição de quão ‘insider’ você se torna partindo de fora — ter outro desejo, outra visão, mais aberta… Se você é curioso de verdade, você vai de fato pesquisar coisas que as pessoas não consideram muito porque elas estão próximas demais daquilo.

Não tenho mais a mesma relação com meu próprio país, porque agora toda vez que eu volto para a França eu me impressiono…

Você virou meio estrangeiro em seu país?

Um pouco, de certa forma. O que é um sentimento muito bom, um pouco assustador às vezes, como se você pudesse perder sua identidade. Mas não sei, acho que essas questões de identidade são extremamente complexas atualmente. Eu não acredito em identidades fixas, acho que somos bem mais maleáveis. E  acho que isso é algo rico pra gente, trabalhar com todas essas identidades, acho que o Brasil é uma terra muito fértil para essas propostas. É uma nova era, claro, então estamos aqui juntos e vamos trabalhar!