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Três curiosidades sobre a Vinil Brasil, a nova fábrica de discos brasileira

12abr

por Red Bull Station

Imagine a situação: 18 toneladas de prensas de discos de uma antiga gravadora são encontradas em um ferro-velho em São Paulo. Deterioradas, elas têm de ser reformadas em um processo longo. O trabalho é pesado, mas quem tomou a iniciativa de resgatá-las é gente aficionada por discos, interessada em produzir vinis e fazer a música de toda uma cena circular.

Essa é, por alto, a trama que dá origem à Vinil Brasil, nova fábrica de discos brasileira, uma das duas a operar no momento no país (até seu surgimento, apenas a Polysom estava em atividade), instalada em um galpão no bairro paulistano da Barra Funda.

Para saber mais detalhes desta história, batemos um papo com Michel Nath, músico e produtor que encabeça o projeto. Michel participa nesta terça-feira de palestra no Pulsø, junto ao mestre dos sintetizadores Arhur Joly, para falar sobre a cultura do faça-você-mesmo na música. Abaixo, já dá para perceber o quanto essa ideologia foi importante na criação da Vinil Brasil.

As prensas da Vinil Brasil | Foto: Divulgação
As prensas da Vinil Brasil | Foto: Divulgação

1.A ORIGEM: Michel queria prensar seu próprio disco
“O lance da fábrica surgiu de uma necessidade que eu e toda uma cena tem de materializar nossos trabalhos musicais com qualidade, eficiência, de uma maneira mais justa e acessível. Meu disco ‘SolarSoul’ foi um processo muito longo. Fazer um vinil não é algo fácil nem barato, e eu ainda tive que esperar um ano por ele. Nesse processo de espera conversei com várias pessoas, e cada uma me deu uma justificativa de que não era viável montar uma fábrica — e as justificativas eram plausíveis: as prensas não existiam, comprar de fora é uma grana absurda. Daí, quando meus discos estavam começando a chegar aqui [eles foram prensados fora], o importador encontrou essas máquinas num ferro-velho, as adquiriu e não tinha a grana para comprar todas, e eu acabei entrando nessa história. O trato que fiz com ele era que quem segurasse a onda de reformar as máquinas tinha prioridade, e eu toquei isso junto com o Luís [Luís Carlos Bueno, técnico que trabalhou em manutenção geral por 20 anos na gravadora RCA], que é a pessoa que tem o conhecimento mesmo de montar”, explica Michel.

2.AS PRENSAS: do ferro-velho para um processo longo de reforma
“As máquinas eram da Continental e ficaram 20 anos paradas — quando o prédio da gravadora teve que ser demolido, elas foram enviadas para um ferro-velho, onde ficaram por um ano. Nesse período as encontramos”, diz Michel. “Elas chegaram aqui totalmente detonadas. O Luís tinha trabalhado com outro modelo de máquina na RCA e precisamos de sete meses até conseguir entender o ciclo da prensa, reformar a primeira, planejar um novo controle. Criamos uma placa que controla todas as funções. Com esse painel digital a gente vai poder mensurar tudo, ter um boletim diário, uma ciência mesmo da prensagem, saber os parâmetros que funcionam. E isso a gente criou do zero. A cortadeira que refila os discos a gente criou do zero. A parte da prensagem funciona tão bem que não tem o que fazer, só reformar”, explica.

Michel Nath e a capa de seu disco "SolarSoul", que o incentivou a montar a fábrica
Michel Nath e a capa de seu disco “SolarSoul”, que o incentivou a montar a fábrica

3.A IDEIA: uma fábrica além do hype, de músicos para músicos
“A gente prioriza antes de mais nada a música. É uma fábrica de músicos e amantes da música para músicos e amantes da música. Queremos deixar um legado musical. A gente já tem uma demanda grande de pedidos, mas estamos primando por uma qualidade, uma excelência, pra que discos bem feitos saíam daqui. A gente não vai abrir pro público enquanto não tiver com essa qualidade. Não somos oportunistas de mercado que pescamos uma tendência — a cultura tem que ser mais longeva, porque quando a moda do vinil passar a gente vai ter a cultura do disco em São Paulo, a produção crescendo”, finaliza Michel.

(Por Adriana Terra)