Convidado a fazer o discurso de abertura do Festival Red Bull Basement, que ocorreu no último dia 20 de agosto, o diretor do instituto holandês Waag Society, Frank Kresin, falou ao público sobre cidades, tecnologia, cultura e comportamento — e sobre como tudo isso está ligado. “A tecnologia está influenciando muito a cultura, e a cultura também está influenciando a tecnologia. Programadores precisam ser agentes ativos e entender que a tecnologia está direcionando muito o que podemos e não podemos fazer”, diz ele.
O tema da palestra era Cidades Inteligentes, mas Frank foi logo dizendo que preferia a ideia de cidades hackeáveis. “Existem muitas falhas e problemas com essas cidades inteligentes como estão sendo propostas atualmente. Primeiramente, elas começam pela tecnologia e não pelos humanos e seus desafios. Não olham para o que os humanos querem ou precisam, e tentam apenas empurrar tecnologias caras para dentro das cidades, desumanizando-as em vez de humanizá-las“, apontou.
Formado em cinema e inteligência artificial, Kresin falou sobre mobilidade urbana — “até 2020 tenho certeza que teremos carros auto-dirigíveis, mas não é preciso tantos carros se você tiver mobilidade em vez de automóveis” — e sobre educação em tempos de fablabs. “Acho que a escola tem uma tarefa muito importante porque é o lugar onde as pessoas aprendem. Por outra lado, ela não é o único lugar para pessoas aprenderem. No futuro próximo, não vamos ter uma profissão, mas novas profissões contínuas, o que significa que vamos ter que estudar nós mesmos por toda nossa vida”, disse.

Explicando como funciona a Waag Society e o pensamento crítico que guia a instituição, Kresin falou: “Achamos que tecnologia não é uma coisa neutra, achamos que ela incorpora alguns valores que podem ser tanto centralizadores e de cima para baixo quanto populares e distribuídos. Ela pode ser orientada pela competição, por interesses econômicos, mas também pode seguir valores sociais e colaborativos”.
O holandês respondeu ainda sobre obsolescência programada, tema central da ação de um dos projetos que participou do festival pelo segundo ano, o Café Reparo. Para o holandês, “de alguma forma, nós precisamos ficar contentes não com o aparelho mais novo, mas com o aparelho do ano passado, porque ainda funciona. Existem muitos hackers que deliberadamente trabalham com computadores velhos porque eles funcionam, e se funcionam por que não usá-los? Se nós conseguirmos mudar essa mentalidade, acho que vamos conseguir algo melhor que qualquer coisa que a Fairphone conseguir. Mas não vai ser fácil.”
Assista abaixo à palestra na íntegra.