As aparelhagens são peças fundamentais do tecnobrega, estilo musical que nasceu na periferia de Belém nos anos 2000, tornou-se um fenômeno do mercado fonográfico nacional e passou a ser visto não apenas como um ritmo paraense, mas como movimento cultural brasileiro.
Tratam-se de enormes equipamentos sonoros que fazem alusão a espaçonaves, com cabine de DJ, sistemas de luz, fumaça e telões de led, sempre caracterizadas pelos excessos de cor e brilho. Esta estética de ficção científica pitoresca atraiu a atenção de Thales Leite e resultou na série fotográfica “Área 51”, em exposição no Sónar+D, evento que integra a programação do Sónar São Paulo e acontece no Red Bull Station entre 25 e 28 de novembro.

O título da mostra faz referência ao código de comunicação de Belém e também à base militar americana “Área 51”, na qual, segundo ufólogos, o governo norte-americano esconde e estuda objetos voadores não identificados. Abaixo, o fotógrafo conta para a gente um pouco como nasceu o trabalho.
Você pode falar um pouco do projeto, como ele surgiu?
Sou fã de filmes de ficção científica e também do trabalho do fotógrafo alemão Thomas Struth, especialmente, uma série em que ele fotografa aceleradores de partículas, reatores nucleares, fábricas de ônibus espaciais. Uma espécie de inventário da “ficção científica que existe”. Sempre pensava em fazer algo nessa mesma linha, mas não fazia ideia do que. Quando conheci as aparelhagens de Belém, tive um estalo e comecei a criar a minha própria história de ficção científica. O título da exposição faz alusão a esta história que criei: um repórter que, em um furo de reportagem, descobre naves espaciais em Belém.
Quando estive lá pesquisando para o projeto, conheci o Jairo Design, um dos principais artistas inventores de aparelhagens do Pará. Para a exposição do Oi Futuro [em 2014, no Rio de Janeiro], conversei com ele sobre fazermos um projeto em conjunto e trazer um pouco dessa “tecnologia alienígena” para a exposição. Bolamos então duas “molduras” feitas com o mesmo material das aparelhagens uma espécie de híbrido entre os nosso ofícios.

Qual a importância da aparelhagem para o movimento tecnobrega?
Durante a minha pesquisa em Belém, todas as boates que visitei na periferia tinham uma aparelhagem. Algumas menores e não tão impressionantes, mas todas tinham pelo menos uma aparelhagem para o DJ se apresentar. Na verdade, poucos são os lugares que são exclusivamente de tecnobrega. Quase todas as festas e boates se caracterizam como “saudade” (festas de “flashback”, com músicas famosas de décadas passadas para um público maior de 30 anos). Tecnobrega é um ritmo mais “consumido” por jovens, as aparelhagens são maiores, mais espetaculares e mais caras.
Mesmo quando não é uma festa de aparelhagem, tem uma aparelhagem na festa. Elas já faziam parte da cultura paraense desde a década de 70; as festas de tecnobrega as colocaram em evidência.