
Transitando dos festivais de música eletrônica como o Dekmantel –que ganhou sua primeira edição nacional neste ano–, aos espaços culturais com instalações e projetos imersivos, a artista visual e produtora Luisa Puterman faz da música e da imagem grandes aliadas nas possibilidades de ampliação sensorial.
Dois projetos dela figuram como destaque na programação de abril e maio no Red Bull Station, o Moto Perpétuo, que fica na galeria principal até o dia 13 deste mês, e o Sonora, que acontece nesta quinta-feira (11). Com diversos pontos de luz alinhados, o primeiro propõe a reflexão sobre as dinâmicas da transformação urbana por meio de um ambiente cujo som tem por base o movimento e a quebra de materiais como vidro, pedra e areia –comumente associados às construções. O Sonora, por sua vez, consiste em vendar os olhos dos participantes e, com as paisagens sonoras construídas ao vivo por ela em colaboração com o artista Bruno Garibaldi, permitir que a liberdade criativa da imaginação individual aflore os sentidos e instigue o público.
No histórico educacional de Luisa, o estudo musical esteve presente como base durante a infância por estímulo da família. Mas quem observa as produções conceituais da artista hoje provavelmente não imagina que ela começou a se arriscar criativamente aos 15 anos por meio do Garage Band, o aplicativo da Apple. Formada em história da arte e, posteriormente, em engenharia de áudio, encaminhou-se para o experimentalismo de maneira bem natural. Especialmente porque explorar a expansão da força imaginativa por meio da arte é o que a alimenta.
Em entrevista, ela conta um pouco sobre seu processo criativo, a relação com música e acerca do surgimento dos projetos.
Você trabalha com música experimental eletrônica. Como chegou a esse direcionamento?
Sempre estudei música, dai fui estudar história da arte e depois engenharia de áudio. Nesse percurso fui reunindo um repertório amplo que mistura som, imagem e música que resulta um pouco nisso.
Seus projetos envolvem a ocupação do espaço. Como enxerga a composição?
Compor no espaço e no tempo são coisas bem diferentes, mas que se complementam de certa forma. No tempo, o raciocínio é mais musical, ligado a melodias, harmonias e outros elementos que formam uma ideia mais comum do que é música. No espaço são outros os desafios que ainda busco compreender, até porque cada espaço é único, o que me leva a pensar que cada espaço ja é em si uma composição.
Como foi a concepção do projeto Sonora?
Ele nasceu em julho de 2016, durante uma residência artística no espaço Área Criativa na cidade de Pedra Azul, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Em parceria com Bruno Garibaldi, desenvolvemos uma série de atividades com os moradores, como colaborações com músicos locais, oficinas e apresentações em espaços públicos. Com a vontade de propiciar às pessoas uma experiência de imersão pautada pelo som e palavra, criamos uma viagem de barco para levar as crianças em uma jornada através da imaginação. Para nossa surpresa, aquilo deu tão certo que repetimos a atividade no presídio da cidade onde tivemos a certeza de que o projeto era algo maior e mais denso. Dessa forma, temos desenvolvido novos roteiros e explorado diferentes contextos e formatos de atuação. E agora o projeto tem um site, que pretende explicar e ilustrar um pouco mais sobre o Sonora.
E o Moto Perpétuo?
Surgiu ao longo do segundo semestre do ano passado, pensado especificamente para o contexto do festival Novas Frequências. A instalação foi meio que aparecendo conforme ideias sobre construção e destruição cruzavam meu caminho. Fui atrás de sons que pertencem a esse universo e acabei chegando num conceito de ciclo infinito, de uma angústia implícita nos processos ilusórios de renovação — além do fato de as cidades estarem inundadas por sons que, como consequência desses processos, nos habitam de forma inconsciente e esteticamente intrigante.
Ambos os projetos se valem de experiências imersivas. Casar alguns elementos estéticos de arte contemporânea com a música é uma maneira de extrair desta ainda mais possibilidades sensoriais?
Nosso corpo é algo complexo, principalmente nesse eixo sensorial… Acho que existem várias maneiras e possibilidades de se trabalhar isso, tento ativar essas possibilidades com o que me interessa e com o que trabalho melhor tecnicamente.
Você tocou no Dekmantel por aqui. Trabalhar com música nos moldes mais “tradicionais” te gera o mesmo entusiasmo?
Sim. Acho que o importante é manter uma conexão com o som de alguma maneira… Música tem um apelo muito forte em mim e isso não tem nada a ver com qualquer tipo de etiqueta ou categoria, mas sim com a potência de comunicação e transformação que o som carrega.