Berndnaut Smilde é um artista holandês que trabalha com instalação, escultura e fotografia. Há cinco anos, uniu arte e ciência e tornou-se conhecido mundialmente ao recriar nuvens artificiais em espaços fechados, com o uso de vapor d’água, fumaça e luz. As esculturas flutuantes existem por apenas alguns segundos, mas a obra permanece por meio de uma série de fotografias. Além das “Nimbus”, Smilde explora em seus trabalhos outros fenômenos naturais como o arco-íris.
A convite do Mesa&Cadeira o artista esteve no Red Bull Station durante seis dias, onde liderou uma mesa e dividiu sua habilidade de hackear a natureza com um time de 12 profissionais de áreas como física, arquitetura, comunicação, nanotecnologia, urbanismo e design. Juntos eles produziram um arco-íris no centro da cidade de São Paulo:

Em entrevista exclusiva, Smilde fala sobre sua produção:
Como surgiu este seu interesse por fenômenos naturais?
As pessoas criaram histórias e mitos sobre os fenômenos climáticos por séculos porque não conseguiam compreendê-los. Provavelmente, é a única coisa que nós ainda não temos controle. Tem algo de inatingível na natureza que me intriga. Estou trabalhando com a ideia da nuvem e do arco-íris e o que as pessoas projetam neles. Nuvens podem ser relacionadas ao divino e à sorte mas também à confusão e ao azar. Um arco-íris pode ser visto como símbolo de perfeição e promessa, mas e se ele beira apenas o seu prédio ou se está de cabeça para baixo? O que isso significa? Muitos dos meus trabalho exploram esta ideia de dualidade.
As nuvens são um tema frequentes na sua obra. Você pode nos explicar o porquê?
Meu trabalho com nuvens começou como uma reação ao espaço expositivo. Estava curioso para saber como seria encontrar uma nuvem dentro de um ambiente fechado. Me imaginei andando em museu vazio onde não havia nada para ver, exceto uma nuvem pairando no canto da sala. Inicialmente eu pretendia criar a imagem da “grande decepção” como um contraponto ao que se espera encontrar dentro de um museu. Como se de repente pudesse chover em você. Mas então me interessei pelo aspecto fugaz da nuvem e suas referências históricas e culturais. As ideias românticas, o sublime; a nuvem representa tanto o ideal quanto o perecível.
Qual foi sua intenção em trazê-las para espaços fechados?
Para mim o trabalho é sobre a ideia de haver uma nuvem dentro de um espaço. Pode ser interpretado como um sinal de perda ou de devir, ou apenas como fragmento de uma pintura clássica. É também a imagem do aparentemente impossível. Colocar um fenômeno natural em um contexto artificial pode ser ameaçador, como uma mensagem desconhecida.

Existe uma questão de temporalidade nesses trabalhos. Você pode falar um pouco sobre isso?
Sim, eu as vejo como esculturas temporárias, feitas de quase nada, equilibrando-se na beira da materialidade, uma imagem da perspectiva em um espaço vazio. As nuvens existem por apenas alguns segundos até se desmancharem. Eu gosto da impermanência do trabalho.
O que você quer provocar no espectador ?
Grande parte da minha produção explora uma ideia de dualidade. Assim como as nuvens se formam e se desfazem ao mesmo tempo, as instalações e esculturas que crio questionam a construção e desconstrução, o tamanho, a temporalidade, a função dos materiais e os elementos arquitetônicos. Muitas das minhas obras parecem estar funcionando, mas frequentemente estão destinadas a falhar, seja pela técnica, pela física, ou com base em nossa perspectiva como espectador. A proposta é lidar com questões como a perfeição e o ideal.
E como é possível recriar nuvens?
Eu uso todos os meios necessários para criar uma ideia. As nuvens são feitas a partir de uma combinação de vapor de água, fumaça e luz.