Meia Noite em Marte participa do workshop “Minas em Estúdio”

O Meia Noite em Marte é uma banda composta por Marcella Carmo, Nath Calan, Theodora Charbel e Ricardo Kudla. Seu som é bem dançante e flerta com a música pop, synthpop e discopunk com influências de Talking Heads, Tom Tom Club e Gang 90.

Banda Meia Noite em Marte
Banda Meia Noite em Marte

Ouça abaixo “Punk Latifa”, single de estreia que fala sobre o amor nos tempos modernos.

O quarteto irá participar do workshop “Minas em Estúdio”, comandado por Alejandra Luciani, assistente de engenharia de som no Red Bull Studio São Paulo. O evento acontece dentro da programação do Festival Sonora, no Red Bull Station, no dia 30 de setembro.

A ideia dessa oficina é mostrar o processo de gravação de uma banda discutindo os fundamentos de captação de áudio e microfonação. A música gravada será “Lunar” e contará com a participação especial de Luna França, compositora, cantora e tecladista. O faixa vai integrar o primeiro disco do Meia Noite em Marte, que tem lançamento previsto para 2018.

 

Hackers e artistas trocam conhecimentos durante residências

Por Patrícia Colombo

Quem visita o Red Bull Station durante este período do ano cruza com turmas aparentemente distintas que ali estão trabalhando seus projetos: são eles os desenvolvedores que participam da Residência Hacker e os selecionados do primeiro grupo de 2017 da Residência Artística. Acontece que, embora um grupo tenha foco mais direcionado na aplicação funcional de seus conceitos enquanto outro transita mais pelo campo abstrato das ideias, a integração se vê possível no decorrer dos dias com o escambo de conhecimento em prol do avanço dos trabalhos pessoais.

A artista Flora Leite, por exemplo, contou com o auxílio de alguns dos integrantes do Red Bull Basement quando um de seus projetos, “Lesma”, esbarrou na eletrônica. “Como eu precisava de um sistema para que a peça se movimentasse, o pessoal me ajudou muito. No final, a troca acabou sendo bastante divertida já que a parte eletrônica do projeto foi mesmo construída a partir do conhecimento deles, e aprendi muito”, comenta.

Camille Laurent e Stefanie Egedy integram a 13ª turma da Residência Artística // Crédito: Lost Art/Red Bull Content Pool
Camille Laurent e Stefanie Egedy integram a 13ª turma da Residência Artística // Crédito: Lost Art/Red Bull Content Pool

O caso do coletivo formado pela designer de luz Camille Laurent e pela designer de som Stefanie Egedy é ainda mais específico. Juntas, elas investigam a suspensão, ainda que momentânea, do controle físico e mental por meio da espacialização da luz e do som. Com esse intuito, criam instalações e performances que exploram o uso de movimentos sonoros e luminosos. Assim, usando a tecnologia como ferramenta dentro da arte, elas contam que, antes de entrar na Residência Artística, reforçaram o interesse em fazer parte da primeira turma de selecionados justamente porque a permanência no local coincidiria com a da turma da Residência Hacker.

“Foi primordial porque trabalhamos com tecnologia, mas não somos da área técnica embora tenhamos uma base de conhecimento”, comenta Camille. “Desde o primeiro dia explicamos nossas problemáticas e eles nos ajudaram demais. E foi tudo bem natural, criamos uma relação de trabalho e de amizade.” Stefanie complementa: “A gente realmente queria muito estar com eles porque de fato várias dúvidas pontuais surgiriam e esse acesso ao conhecimento seria muito mais fácil. E ver também a forma como eles trabalham me impactou bastante. Notar um metal que uso para fazer som sendo utilizado por eles para fazer um motor, por exemplo… Ter essa noção de que as ferramentas muitas vezes são iguais”.

A recíproca é verdadeira
“A gente ajuda com o conhecimento técnico mais tecnológico, mas a turma da Residência Artística também nos auxiliou muito em outros aspectos, como conhecimentos sobre materiais como resina e fibra de vidro”, conta Alisson Claudino. Junto ao amigo Cristthian Marafigo, ele trabalha na elaboração do Micro Aerogerador, um sistema eletromecânico, cuja energia cinética do vento, ao atravessar a hélice de uma turbina eólica, é transformada em energia mecânica no eixo do rotor, que por sua vez é transformada em energia elétrica. Esta energia pode ser utilizada imediatamente ou armazenada em baterias.

Marina de Freitas, que divide o projeto Tecnologia Cidadã por Meio de Estações Metereológicas Modulares com Leonardo Sehn e Jan Luc Tavares, também pontua a importância da troca entre áreas. “Uma das dificuldades que estávamos tendo era a de construir uma estrutura de sustentação que fosse acessível e com materiais que estivessem ao alcance. E a Flora foi uma pessoa que nos ajudou muito com esse lado da pesquisa, indicando, inclusive, boas lojas para encontrar esses itens, que vendiam desde parafusos a máquinas”, diz. “Certamente demoraríamos mais no desenvolvimento do projeto não fosse a ajuda dela nos explicando alguns conceitos de materiais.”

“Estar com tantas pessoas que pensam diferente da gente é interessante para dar a chance que as coisas aconteçam até de uma forma que não esperaríamos”, reflete Marina, destacando que ainda a existência de perfis distintos mesmo dentro de sua própria área. “Por ser uma residência que desenvolve projetos de código aberto, acredito que o Basement atrai tipos diferentes de desenvolvedores de tecnologia porque lidamos com algumas questões mais lúdicas em determinados momentos. Aqui dentro, por exemplo, temos uma grande diversidade considerando que a Meyrele [Nascimento] é do design, o Saulo [Jacques] é da biologia e o Rainer [Grasmann] é da arquitetura.”

Turma da Residência Red Bull Basement de 2017 //Crédito: Felipe Gabriel/Red Bull Content Pool
Turma da Residência Red Bull Basement de 2017 // Crédito: Felipe Gabriel/Red Bull Content Pool

 

Festival Red Bull Basement: palestras terão transmissão ao vivo

P-20160820-00114_news

Três das palestras que rolarão durante o Festival Red Bull Basement serão transmitidas ao vivo diretamente do Red Bull Station. O evento acontece neste sábado (2), das 11h às 20h, abordando o tema Tecnologia e Sociedade, com exposição, conversas e oficinas.

“Vivendo Dentro da Máquina: Como Sobreviver à Datacracia do Futuro”, “Litro de Luz: Iluminando o Mundo, uma Garrafa de Cada Vez” e “O Futuro das Manufaturas Distribuídas” poderão ser vistas por meio da página oficial do Red Bull Station no Facebook.

Veja abaixo os detalhes e os horários de cada uma das conversas. Para acessar a programação completa do evento, clique aqui:

11h30 às 12h40 – “Vivendo Dentro da Máquina: Como Sobreviver à Datacracia do Futuro”
Com Luli Fadherer, professor-doutor de Comunicação Digital da ECA da USP e consultor para projetos de inovação digital.
Datacracia é o regime político cada vez mais baseado em dados, sensores e analytics, que muitas vezes causa problemas e miopias geopolíticas. Um exemplo é a operação do metrô de Londres estar nas mãos da Microsoft, que usa os dados obtidos para fins comerciais. A palestra vai abordar os riscos da manipulação de dados e o que isso significa.

14h às 15h10 – “Litro de Luz: Iluminando o Mundo, uma Garrafa de Cada Vez”
Com Laís Higashi, presidente da ONG Um Litro de Luz, que leva energia elétrica a comunidades que vivem sem luz.
Ela vai contar como o movimento, que já alcança mais de 20 países, utiliza garrafas PET e energia solar para iluminar as casas de comunidades de todo o mundo.

15h35 às 16h45 – “O Futuro das Manufaturas Distribuídas”
Com Jorge Lopes, doutor pela Faculdade de Engenharia Química da Unicamp.
O panorama atual e perspectivas futuras dos sistemas de manufatura aditiva e escaneamento 3D, que transformam a prática de designers, engenheiros e artistas, é tema da palestra de Jorge Lopes. A democratização e disseminação dos meios tecnológicos através de sistemas abertos, bem como as novas tecnologias que impactam a qualidade de vida e a longevidade, também serão abordadas.

 

Festival Red Bull Basement: programação completa

Festival Red Bull Basement
Festival Red Bull Basement retorna em sua terceira edição focado em Tecnologia e Sociedade, depois de explorar o tema “Reprogramar a Cidade” na edição de 2016. No sábado, dia 2 de setembro, o Red Bull Station promove o evento das 11h às 20h, com uma série de palestras e oficinas, além de uma exposição que aborda como projetos inovadores podem solucionar diversas questões sociais.

O modo como a tecnologia é capaz de ajudar no desenvolvimento democrático e maior participação popular, as ferramentas usadas para essa descentralização e os exemplos inovadores de cidadãos que tomam parte na gestão de assuntos de interesse público são os tópicos nortearão a edição de 2017.

Um dos destaques entre os palestrantes é Luli Fadherer, professor-doutor de Comunicação Digital da ECA da USP e consultor de projetos de inovação digital. Ele vai falar a respeito da datacracia, o regime político cada vez mais baseado em dados, sensores e analytics, que usa informações pessoais para fins comerciais.

Aprender a usar o Arduino para criar um sistema de irrigação automatizada de hortas urbanas e construir um mobiliário urbano coletivamente estão entre as oficinas que serão oferecidas gratuitamente. Mais uma vez, haverá o Café Reparo, ponto de encontro de quem deseja consertar equipamentos ou dar novos usos a eles. A ideia é também interromper o ciclo de descarte.

Na programação também está prevista a apresentação dos projetos dos participantes da terceira edição da Residência Hacker. Durante dois meses os residentes selecionados ganham auxílio para desenvolverem seus projetos cujo objetivo final é resolver questões urbanas e deixar um legado para a sociedade.

PROGRAMAÇÃO COMPLETA

• PALESTRAS
11h30 às 12h40 – “Vivendo Dentro da Máquina: Como Sobreviver à Datacracia do Futuro”
Com Luli Fadherer, professor-doutor de Comunicação Digital da ECA da USP e consultor para projetos de inovação digital.
Datacracia é o regime político cada vez mais baseado em dados, sensores e analytics, que muitas vezes causa problemas e miopias geopolíticas. Um exemplo é a operação do metrô de Londres estar nas mãos da Microsoft, que usa os dados obtidos para fins comerciais. A palestra vai abordar os riscos da manipulação de dados e o que isso significa.
Entrada gratuita.
Inscrições pelo link: https://tickets.redbull.com/landingpage/372

14h às 15h10 – “Litro de Luz: Iluminando o Mundo, uma Garrafa de Cada Vez”
Com Laís Higashi, presidente da ONG Um Litro de Luz, que leva energia elétrica a comunidades que vivem sem luz.
Ela vai contar como o movimento, que já alcança mais de 20 países, utiliza garrafas PET e energia solar para iluminar as casas de comunidades de todo o mundo.
Entrada gratuita.
Inscrições pelo link: https://tickets.redbull.com/landingpage/373

15h35 às 16h45 – “O Futuro das Manufaturas Distribuídas”
Com Jorge Lopes, doutor pela Faculdade de Engenharia Química da Unicamp.
O panorama atual e perspectivas futuras dos sistemas de manufatura aditiva e escaneamento 3D, que transformam a prática de designers, engenheiros e artistas, é tema da palestra de Jorge Lopes. A democratização e disseminação dos meios tecnológicos através de sistemas abertos, bem como as novas tecnologias que impactam a qualidade de vida e a longevidade, também serão abordadas.
Entrada gratuita.
Inscrições pelo link: https://tickets.redbull.com/landingpage/374

17h às 18h10 – “Empreendedorismo, Hardware e Impacto Social”
Com Anielle Guedes, fundadora e CEO da Urban3D.
Empreender em hardware no Brasil não é das tarefas mais fáceis. Anielle vai falar sobre esse processo, tendo como pano de fundo a história da Urban3D, uma startup que busca atingir o estado da arte na construção civil. Os benefícios e as dificuldades de se trabalhar na área também serão abordados.
Entrada gratuita.
Inscrições pelo link: https://tickets.redbull.com/landingpage/386

18h25 às 20h – Apresentação dos Projetos Residentes da 3ª Residência Hacker.
Entrada gratuita.
Inscrições pelo link: https://tickets.redbull.com/landingpage/376
Lotação: 100 pessoas
Local: Auditório

• OFICINAS
Synth Intro: Atari Punk Console
A portabilidade das novas tecnologias tem também modificado a forma como utilizamos o espaço público para o lazer. Atualmente, podemos criar equipamentos portáteis que promovem novas formas de fazer música e ocupar novos espaços na cidade. A ideia desta oficina é montar um oscilador/sintetizador Atari Punk Console com sensor de luz para modular a frequência gerada. Esse circuito serve como porta de entrada para o mundo dos sintetizadores analógicos. É hackeável e versátil.
Vagas: 15
Carga horária: 11h às 13h.
Facilitação: Mauricio Jabur.
Local: Ateliê Analógico.
Entrada gratuita
Inscrições pelo link: https://tickets.redbull.com/landingpage/377

Uso de Arduino para Irrigação Automatizada de Hortas Urbanas
Esta oficina visa potencializar a emancipação das pessoas através automatização da irrigação de hortas urbanas. O objetivo é montar e projetar o próprio sistema de controle e monitoramento da irrigação utilizando a plataforma Arduino. Além de hortas urbanas, esse sistema pode ser usado em iniciativas de agricultura urbana de médio porte. O caráter acessível e adaptável da plataforma Arduino permite que o sistema possa ser adaptado às necessidades específicas de cada usuário, ou seja integrado a outras técnicas, como a captação da água de chuva e o monitoramento climático local.
Vagas: 15
Carga horária: 11h às 17h.
Facilitação: Saulo Jacques e Marina Freitas.
Local: MakerSpace.
Entrada gratuita
Inscrições pelo link: https://tickets.redbull.com/landingpage/378
*Obs.: os participantes precisam trazer seu notebook.

Workshop de Design Paramétrico
Neste workshop os participantes conhecerão o processo de parametrização, criação e produção de mobiliário para corte em CNC Router. Também farão a montagem de um banco que ficará exposto no prédio. O workshop será ministrado pelo Studio dLux.
Vagas: 15
Carga horária: 14h às 15h30.
Facilitação: Studio dLux
Local: Galeria Principal
Grátis.
Inscrições pelo link: https://tickets.redbull.com/landingpage/380

Café Reparo
Projeto de difusão da cultura hacker, que tem como objetivo estimular a curiosidade para descobrir como as coisas funcionam. Com o objetivo de interromper o ciclo do descarte e retomar ou dar novos usos a equipamentos existentes, o Café Reparo vai ser ponto de encontro de pessoas, coletivos e utilizadores de computadores, mobiliário e equipamentos elétricos e eletrônicos, interessados em reparar seus objetos e equipamentos e também aprender a fazer pequenos reparos, aumentando a vida útil de objetos considerados descartáveis.
Horário: 11h às 20h.
Local: Galeria Principal.
*Obs.: Não é necessário inscrição. É só trazer seu objeto para conserto!

• OFICINAS – PRÉ-FESTIVAL
Workshop e Execução de Fabricação Digital para Mobiliário Urbano*
Workshop de fabricação digital para mobiliário urbano, que será produzido pelo maker Forest CNC. Serão três encontros, onde os participantes terão um introdução a novas tecnologias de corte, aprenderão a desenhar o mobiliário e os construirão no terceiro encontro. Com Studio dLux.
Vagas: 15
Horário: 18h30 às 22h30.
Data: 28, 29 e 30/8
Local:
Galeria Principal
Entrada gratuita
Inscrições pelo link: https://tickets.redbull.com/landingpage/380
*Obs.: Os alunos precisam ter domínio em AutoCAD ou Corel e deverão trazer seus notebooks no segundo e terceiro dias.

Olhar do Toque: Construindo mapas Táteis para Pessoas com Deficiência Visual
Nesta oficina construiremos um mapa tátil em grupo. Serão abordados temas como a colaboração da cultura faça-você-mesmo no desenvolvimento desses projetos, conceitos da tecnologia assistiva e a construção de diversos mapas táteis, passando por método artesanais à impressão 3D e corte a laser. Durante o festival os mapas serão exibidos no Red Bull Station, onde serão mantidos como legado.
Data: 01/09
Vagas: 16
Carga horária: 14h às 18h.
Facilitação: Marcos Oliveira, fundador da plataforma MeViro.
Local: Ateliê Analógico.
Entrada gratuita
Inscrições pelo link: https://tickets.redbull.com/landingpage/371

A oficina será detalhada e dividida em três fases:

Fase 1: Apresentação e Conceitos
– Apresentação dos conceitos de Tecnologia Assistiva;
– Como o mundo maker e a cultura do faça-você-mesmo podem contribuir para construção de soluções para pessoas com deficiência;
– Relato de uma pessoa com deficiência visual sobre seus problemas com mobilidade;
– Apresentação de conceitos sobre mapas táteis;
– Apresentação de diferentes mapas táteis.

Fase 2: Mão na Massa
Para este momento, a ideia é que os participantes sejam divididos em grupos de 3 ou 4 pessoas. Cada grupo vai ser responsável pela construção de um mapa tátil. A sugestão é que sejam feitos quatro modelos de mapas táteis.

– Na primeira fase, serão feitos mapas que utilizam materiais de baixo custo (papelão e palitos de dente) e que podem ser feitos por qualquer pessoa;
– Na segunda fase, serão feitos mapas que utilizam os métodos atuais de prototipagem rápida, como impressão 3D e a cortadora a laser.

Fase 3: Apresentação/Entrega dos Mapas e Cadastro na plataforma MeViro
A ideia é fazer uma apresentação dos mapas e dificuldades sentidas na construção. A pessoa com deficiência visual que estiver participando vai poder testar o mapa e dar sua opinião sobre os modelos criados. Ao final da oficina, os projetos serão cadastrados na plataforma MeViro para que outras pessoas consigam replicá-los onde quer que estejam.

• EXPOSIÇÃO
Exposição dos protótipos desenvolvidos pelos residentes da 3ª Residência Hacker.
Local: Galeria Transitória
Projetos:
1) Micro Aerogerador;
2) Tecnologia Cidadã por meio de estações meteorológicas modulares;
3) Flux;
4) ClimoBike;
5) Horta vertical automatizada.

 

Integrante da Residência Artística, Flora Leite estreia exposição

Junto aos artistas João GG, Renato Pera, Rodrigo Arruda e Yuli Yamagata, Flora Leite, uma das selecionadas para a 13ª turma da Residência Artística do Red Bull Station, estreia exposição no Oficina Cultural Oswald de Andrade neste sábado (12). Intitulada “Disfarce”, o trabalho, que conta com curadoria de Leandro Muniz, fica exposto até 31 de outubro.

“Antes de se definir como um tema propriamente, a noção de disfarce vem das operações e procedimentos destes artistas: ocultamentos e revelações, materiais que simulam a aparência e o desempenho de outros materiais, formas de representação que se comportam como seus referentes, obras que mimetizam o espaço onde estão ou se camuflam nele”, afirma comunicado oficial da exposição.

"Fascinação", trabalho de 2014 da artista Flora Leite
“Fascinação”, trabalho de 2014 da artista Flora Leite

Flora conta que inicialmente Leandro tinha interesse em aliar uma série anterior da artista, intitulada “Fascinação” (2014). “É um trabalho com cristais produzidos no meu ateliê com materiais vulgares que parecem muito refinados e valiosos. Mas resolvi pensar em um projeto específico para a exposição” explica a artista.

“Costumo trabalhar muito com as especificidades dos espaços e, nesse caso, o chão ali tem uma característica muito proeminente, um piso laminado com imitação de madeira. Fiquei olhando para ele com incômodo e, a partir disso, pensei em fazer um taco idêntico ao taco do chão com o intuito que ele se movesse.” O trabalho chama “Lesma” entre outros motivos devido à cor do chão, um bege claro com algumas variações. “Uso procedimentos miméticos para comentar o espaço, sem julgamentos”, diz Flora.

Para chegar no resultado que queria, no entanto, esbarrou no pouco conhecimento que tinha em eletrônica. Foi então que, dividindo o espaço do Red Bull Station, acionou uma outra equipe que aqui se encontra para produzir seus projetos: os residentes do Red Bull Basement. “Como eu precisava de um sistema para que a peça se movimentasse, o pessoal me ajudou muito. No final, a troca acabou sendo bastante divertida já que a parte eletrônica do projeto foi mesmo construída a partir do conhecimento deles, e aprendi muito.”

Nascida em 1988, a artista vive e trabalha em São Paulo e é formada em Artes Visuais pela ECA-USP. Sua pesquisa tenta compreender os parâmetros pelos quais nossa relação cotidiana com os objetos, paisagens e imagens foi construída: acatar a sujeira das coisas para testar até que ponto se pode conviver com elas, dizer alguma coisa delas, apesar delas.

Serviço
Onde: Oficina Cultural Oswald de Andrade (Rua Três Rios, 363 – Bom Retiro)
Quando: Abertura em 12 de agosto,  das 14h às 18h; visitação de segunda a sexta das 9h às 22h; sábados das 10h às 18h. Até 31 de outubro

 

 

Conheça os artistas que participam da 13ª Residência Artística

Em 2017, foram selecionados artistas para a 13ª e 14ª turmas da Residência Artística do Red Bull Station. A primeira leva de criativos se encontra desde o dia 1 de agosto em ação no espaço, permanecendo por ali até 2 de setembro.

Aline Motta, o coletivo formado por Ariana Miliorini, Gustavo Paim e Raquel Krugel, o duo composto por Camille Laurent e Stefanie Egedy, e os artistas solo Flora Leite, Henrique Detomi e Laura Andreato foram selecionados pelo júri que apostou em dar vazão a pesquisas com pouca visibilidade ou repercussão nos diversos circuitos que compõem a paisagem da arte contemporânea na cidade.

“Ancorados em combinações pouco ortodoxas, procuramos com essa seleção contribuir para a expansão e o diálogo entre os diferentes campos da criação”, anunciaram Bruno Palazzo, Fernando Velázquez e Raphael Escobar. Conheça abaixo o trabalho de cada um deles.

Aline Motta
Nasceu em Niterói (RJ), mas vive e trabalha em São Paulo. Combina diferentes técnicas e práticas artísticas, mesclando fotografia, vídeo, instalação, arte sonora, colagem, impressos e materiais têxteis. Sua investigação busca revelar outras corporalidades, criar sentido, ressignificar memórias e elaborar outras formas de existência. Em 2017, participou da exposição “Modos de ver o Brasil” com curadoria de Paulo Herkenhoff, Thais Rivitti e Leno Veras.

Série "Varal do meu Vizinho", de Aline Motta
Série “Varal do meu Vizinho”, de Aline Motta

Coletivo Ariana Miliorini/Gustavo Paim/Raquel Krugel
Trio de multiartistas inseridos no circuito de música eletrônica experimental e underground. Como coletivo, suas pesquisas se convergem nas situações limite da escuta, instalações e site-specifics de arte sonora e na relação entre som, espaço e tempo.

"Totem Sonoro", de Raquel Krugel
“Totem Sonoro”, de Raquel Krugel

Coletivo Camille Laurent e Stefanie Egedy
Juntas desde 2016, a designer de luz Camille Laurent e a designer de som Stefanie Egedy investigam a suspensão, ainda que momentânea, do controle físico e mental por meio da espacialização da luz e do som. Com esse intuito, criam instalações e performances que exploram o uso de movimentos sonoros e luminosos.

Performance do duo Camille Laurent e Stefanie Egedy
Performance do duo Camille Laurent e Stefanie Egedy

Flora Leite
Nascida em 1988, a artista vive e trabalha em São Paulo e é formada em Artes Visuais pela ECA-USP. Sua pesquisa tenta compreender os parâmetros pelos quais nossa relação cotidiana com os objetos, paisagens e imagens foi construída: acatar a sujeira das coisas para testar até que ponto se pode conviver com elas, dizer alguma coisa delas, apesar delas.

"Gozadinha", de Flora Leite. Pingo de led e mangueira
“Gozadinha”, de Flora Leite. Pingo de led e mangueira

Henrique Detomi
Graduou-se em Artes Plásticas na Escola Guignard/UEMG, em Belo Horizonte/MG. Como um artista que caminha, Henrique representa em suas pinturas paisagens sempre adicionando determinados objetos ou estruturas irreais. Participa de diversas mostras coletivas e individuais desde 2008.

Sem título, Henrique Detomi. Óleo sobre tela
Sem título, Henrique Detomi. Óleo sobre tela

Laura Andreato
Nascida em São Paulo em 1978, a artista vive e trabalha na capital paulista também como educadora. É mestra em Poéticas Visuais pela ECA-USP e graduada em Artes Visuais pela mesma instituição. Dentre as exposições de que participou, destacam-se as mostras Le Royale (La Maudite, Paris, 2014); Deslize (MAR,Rio de Janeiro, 2014); e Como Pintar Picos Nevados ( Ateliê 397, São Paulo, 2013). Participou de residências na Cité des Arts (Institut Français, 2014) e na Fundação Iberê Camargo (Porto Alegre, 2006). Foi contemplada pelo edital do Proac Artes Visuais (2012, 2008) e ganhou o prêmio aquisição da Mostra de Exposições do Centro Cultural São Paulo (2004).

"Vert Paradis", de Laura Andreato. Registro fotográfico de ação artística
“Vert Paradis”, de Laura Andreato. Registro fotográfico de ação artística

Veja os selecionados para as novas turmas da Residência Artística

Statement do Júri
O júri apostou em dar vazão a pesquisas com pouca visibilidade ou repercussão nos diversos circuitos que compõem a paisagem da arte contemporânea na cidade.
Ancorados em combinações pouco ortodoxas, procuramos com essa seleção contribuir para a expansão e o diálogo entre os diferentes campos da criação.

#risco #ruído #incerteza #mistura # expansão

Os artistas selecionados são:

13ª (1 de agosto a 2 de setembro)
Aline Motta
Coletivo – Ariana Miliorini/ Gustavo Paim/ Raquel Krugel
Coletivo Lugar 3 – Camille Laurent/ Stefanie Egedy
Flora Leite
Henrique Detomi
Raoni Shaira

14ª (26 de setembro a 28 de outubro)
Carolina Marostica
Denise Alves-Rodrigues
Katia Fiera
Rafael Bqueer
Rafa Munarriz
Renato Atuati

Suplentes
1ª Laura Andreato
2º Gabriel Junqueira
3ª Vânia Medeiros
4º Felipe Caprestano

A artista Raoni Shaira, por motivos de agenda pessoal, não poderá participar da residência, ficando assim convocada a primeira suplente, Laura Andreato.

São Paulo, 21 de julho de 2017.

Bruno Palazzo, Fernando Velázquez e Raphael Escobar

Conheça o Instituto Rugby para Todos, tema do doc “Os Leões de Paraisópolis”

19748889_1584763378240941_4529648493141436766_n

Por Patrícia Colombo

Nesta quarta-feira (12), o Red Bull Station recebe a exibição em duas sessões do documentário “Os Leões de Paraisópolis”, dirigido por Danilo Mantovani e Guga Ferri. O projeto audiovisual conta a história do Instituto Rugby para Todos, que ajudou e segue ajudando diversos jovens carentes a encontrarem, no esporte, o estímulo para a superação das adversidades do cotidiano.

Criado em 2004 por Fabricio Kobashi e Mauricio Draghi, o projeto já atuou na formação de mais de 5 mil crianças e adolescentes em São Paulo e no Rio de Janeiro. O início se deu na comunidade de Paraisópolis, na zona sul da capital paulista. “Eu e o Maurício éramos vizinhos de bairro, no Morumbi, e jogávamos juntos no Pasteur A.C, clube de rugby da primeira divisão de São Paulo”, conta Fabricio. “Depois de dois anos morando na Austrália, aquele contraste entre pobreza e riqueza da região foi algo que passou a me incomodar bastante.”

Em uma conversa quase que despretensiosa sobre a realidade urbana, a dupla acabou pensando em produzir algo voltado para a inclusão a partir do esporte. Foi quando decidiram de vez entrar em Paraisópolis. “Procuramos o campo do Palmeirinha e as escolas locais para divulgar as aulas de rugby”, relembra. “Na primeira aula, já tínhamos quase 100 alunos, e muitos pais e mães curiosos para saber o que era esse esporte diferente que estava chegando lá. Desde então, nunca mais paramos, contando sempre com o apoio de voluntários e parceiros que acreditaram no projeto.”

Hoje em dia, só em Paraisópolis, o projeto atende mais de 200 alunos no local, com idades entre 6 e 18 anos — o time feminino de Leoas inclui garotas entre 14 e 18 anos. Em 2013, nasceu a Escolinha Social Rugby Rio, com aulas duas vezes por semana em alguns pólos da cidade — localizados, atualmente, nas praias de Copacabana e Flamengo, atendendo, ao todo, 150 crianças. Leia abaixo a conversa com o cofundador do Instituto Rugby para Todos.

Como surgiu a parceria para a elaboração do documentário?
Em 2012, quando o Gustavo Ferri nos procurou contando do seu sonho de fazer um filme sobre rugby e sobre os Leões, como uma forma de retribuir ao esporte. O Guga foi o cara que me convidou para jogar rugby. Na época eu tinha 14 anos e a gente estudava no mesmo colégio. Ele já jogava desde os nove por influência do seu irmão, o Felipe Ferri, que jogou junto com o Maurício na seleção brasileira. Quando fiz os primeiros treinos em 1996 e conheci aquele esporte de contato intenso, me identifiquei muito e mergulhei de cabeça principalmente por seus valores de união e camaradagem. Ele parou de jogar na transição para o adulto, e eu joguei até os 34 anos. Agora estou voltando a jogar com os Leões e está sendo divertido. Quando ele nos contou de sua ideia, topamos na hora e começamos a captar imagens. O projeto aguardava financiamento para poder ser finalizado, e isso aconteceu em 2016, quando a Spanda Produtora viabilizou o filme em co produção com a ESPN. A partir disso passamos a focar em alguns personagens e eventos importantes que aconteceriam. Após o final das filmagens, ficamos naquela expectativa das primeiras edições e quando vimos as imagens ficamos emocionados e com a certeza que o filme ficaria lindo.

No Instituto, o time de voluntários inclui psicólogos, educadores, atletas… Como chegaram a esse formato de equipe?
Atualmente, temos profissionais contratados nas áreas de Educação Física, Rugby, Psicologia, Nutrição, Fisioterapia e Assistência Social. Desde o início, eu e o Maurício percebemos a importância de unir forças e conhecimentos diferentes, que é exatamente como funciona um time de Rugby — vários biotipos e habilidades, envolvendo personalidades diversas e condição física e técnica, mas todos com o mesmo objetivo e se comunicando constantemente para chegar, sempre que possível, nas melhores soluções. Ou seja, nosso intuito é o de permanecer em união para resolver os problemas e orientar os alunos da melhor maneira. Isto tem funcionado constantemente no Instituto, que tem uma metodologia que está em constante desenvolvimento, sempre acompanhando as demandas.

Quais as dificuldades de manter na ativa um projeto grande como esse?
A maior dificuldade é sempre a financeira, de ter que correr atrás do budget para o próximo ano até os 47 do segundo tempo, para manter e melhorar a qualidade do atendimento no ano seguinte. Mas, mesmo neste cenário de crise, com os parceiros fiéis que temos, foi possível manter o projeto rodando com atendimento padrão, que envolve desde do uniforme e alimentação até profissionais da área esportiva, educacional e de saúde. Outro gasto grande que tem surgido cada vez mais é com a participação de campeonatos e torneios, fruto do amadurecimento das turmas em times juvenis e adultos, masculinos e femininos, que disputam as principais competições nacionais. Outra dificuldade é manter uma equipe de ponta. Os profissionais que trabalham no Instituto tem um perfil bastante específico, que são raros no mercado. Então, valorizamos muito nossa equipe de colaboradores, que fazem os resultados acontecerem dentro e fora de campo. Todo o esforço e envolvimento tem sido recompensador, na medida que  temos tido resultados mais do que positivos com os alunos sempre respondendo à altura, mostrando desenvolvimento pessoal e social a cada dia, e evoluindo como atletas de Rugby.

Qual o acompanhamento que vocês têm com relação aos atletas que saem do programa?
Atualmente, estamos com times adultos feminino e masculino. Isto tem sido uma nova fase, em que estes atletas têm a oportunidade de jogar no clube que os formou, e no bairro onde moram. Ainda mantemos parceria que temos de longa data com o Pasteur Athlétique Club nas categorias M15, M17, M19 e adulto masculino, com a intenção de ter times independentes gradualmente, para, em um médio prazo, estar disputando as principais divisões do Rugby Paulista e Nacional. Já as Leoas adultas estão jogando todas com a camisa amarela e preta, com resultados surpreendentes para o primeiro ano que disputam pra valer nesta categoria. Logo no início deste ano jogaram o qualificatório para o circuito nacional e terminaram em segunda colocação, conseguindo a vaga. Agora já estão indo pra terceira etapa do circuito, com resultados bastante expressivos. Mas a principal função do Instituto com os alunos mais velhos é justamente promover e estimular a autonomia dos mesmos, em um trabalho voltado para a identificação de habilidades e afinidades, além do foco na gestão da rotina para que possam fazer esta transição para a vida adulta e planejar sua entrada no mercado de trabalho e no mundo acadêmico, além de continuar praticando esportes e jogando rugby.

Vocês lidam com trajetórias de vida complexas que encontraram no esporte uma saída…
A maioria de nossos alunos tem histórias de superação. Vivem em uma comunidade pobre, onde ter poucas oportunidades e ser atraído pra outras não tão benéficas é normal. Só o fato de estarem praticando rugby e vestirem esta camisa com tanto amor já é uma grande superação. No próprio filme temos a Gabrielle, que teve um filho com 17 anos e, após um período conturbado, conseguiu voltar a jogar e hoje faz parte novamente do time das Leoas. Temos várias outras histórias. Algumas são retratadas no filme e quem ver vai ficar orgulhoso de quem são os Leões, e os valores que carregam e difundem dentro e fora de Paraisópolis.

Quais os pontos positivos para elas, no sentido de empoderamento?
As meninas sempre estiveram presentes nas turmas do Instituto Rugby Para Todos desde o início. Em 2011, uma das primeiras voluntárias do Instituto em 2004, Marcia Muller, voltou a dar aulas no projeto, cuidando das turmas das meninas, o que vêm fazendo até hoje com muita entrega. Discutindo com a Marcia e a equipe educacional, identificamos que era importante ter um programa específico voltado para as alunas, tanto esportivo quando educacional, focado em saúde e empoderamento feminino. Começou assim o que chamamos aqui de Programa da Mulher, que tem um planejamento específico, principalmente a partir dos 14 anos, quando são separadas dos meninos nas turmas de rugby. Com este programa foi possível identificar de forma mais clara as demandas de gênero, principalmente em relação à saúde e direitos. Isto é totalmente feito de forma integrada com os valores e a própria prática do rugby, mas com atividades transversais que possibilitaram abordar temas variados que fazem parte deste universo. Os resultados mostram muitos pontos positivos: as meninas são ultra organizadas dentro e fora de campo. E elas jogam em um nível altíssimo, enfrentando de igual para igual todos os times do Brasil. E se mobilizam fora de campo para que a participação do time das Leoas seja possível cuidando dos uniformes, fazendo rifas, trufas e bolos para vender e arrecadar verba pra inscrição e transporte. E isto mostra como vale a pena dar a elas esta oportunidade, em um cenário onde a mulher é sempre desvalorizada no esporte.

Qual o seu maior aprendizado de vida nessa experiência?
O maior aprendizado é que sozinho não fazemos nada. Muitas vezes podemos tomar decisões que depois descobrimos que não eram as melhores, ou não termos os recursos como gostaríamos. Mas se estivermos juntos para resolver os problemas e buscar chegar onde queremos, focados na mesma missão, tudo é possível. Ao iniciarmos o projeto em 2004, logo percebemos que as pessoas, de um modo geral, têm a vontade de fazer algo pelo outro, algo que deixe um legado para o mundo onde vivem. A base do Instituto Rugby Para Todos sempre foi a do voluntariado. Mesmo hoje, que temos profissionais contratados, todos, sem exceção, se voluntariam para fazer sempre mais, pensar sempre além, para que os alunos consigam os resultados possível. E isso é o que aprendemos no rugby. Nos doarmos por algo em que acreditamos. Neste sentido, gostaria de registrar meu agradecimento infinito a todos os meus treinadores e parceiros de time, que me ensinaram, através de palavras e de atitudes, os valores do rugby e que com trabalho duro e união se consegue resultados incríveis.

Red Bull Amaphiko Academy: o que rolou durante 10 dias

De 23 de junho a 2 de julho, o Red Bull Station foi ocupado por projetos e empreendedores sociais inspiradores, que fazem parte da nova edição do Red Bull Amaphiko Academy. Palestras com nomes referência na área, bate-papo com mentores, atividades para movimentar o corpo e muitos momentos de interação fizeram parte dessa imersão que apenas começou.

Durante os próximos 18 meses, eles serão instigados a refletirem e agirem sobre o próximo passo para seus projetos. Veja abaixo na galeria de fotos como foi o começo dessa jornada, que foi finalizada com o Red Bull Amaphiko Festival, no domingo (2).

 

Rico Lins: o acaso, a reflexão e o conceito no design e na ilustração

Rico Lins

Por Patrícia Colombo

Designer, ilustrador, diretor de arte, Rico Lins é uma das figuras mais celebradas no campo da produção visual no Brasil. E nesta semana ele estará aqui no Red Bull Station para comandar uma oficina de colagens com duração de dois dias para 15 inscritos, bem como realizar uma palestra sobre processos criativos nesta quinta (6), cujas inscrições estão encerradas.

Formado pela ESDI, Rio, em 1979 e com Master pelo Royal College of Art de Londres, Rico é membro da AGI (Alliance Graphique Internationale) e detentor de um currículo extenso com atuação nacional e internacional, apresentando um trabalho que, grosso modo, mistura elementos do DNA brasileiro e influências  de vanguardas como o Surrealismo e o Dadaísmo.

No workshop, Rico vai propor aos participantes a utilização de uma notícia da imprensa como ponto de partida para traçar um ou mais comentários pessoais sobre o fato, valendo-se de referências visuais extraídas também de elementos do cotidiano, como bilhetes de metrô, embalagens, bulas, panfletos etc.

Na discussão sobre digital e analógico dentro do campo artístico, Rico enxerga no trabalho híbrido a melhor saída para a criação, e acredita que o segredo para a produção artística autoral de qualidade está em “encontrar o equilíbrio entre o acaso, a reflexão e o conceito”. Conversamos com ele sobre a atividade de realizará por aqui e acerca da sua visão com relação à profissão, o futuro do design e o campo das ideias.

Os participantes da oficina trarão materiais do cotidiano. Como pensou na atividade e quais os objetivos criativos dela?
Eu acho que a gente vive atualmente em uma situação da facilidade de acesso à quantidade de imagens graças à internet. O que é legal desde que você tenha uma ideia clara do que quer fazer, se já possui um trabalho de edição e uma capacidade de busca refinados — caso contrário qualquer coisa que encontre acaba valendo, o que empobrece a produção. Quando temos trabalhos gráficos de base analógica, o exercício de reflexão é outro. Acho interessante incorporarmos esse lado mais expressivo, saindo da imaterialidade da internet ao fazer um comentário sobre fatos do cotidiano. Agregar elementos físicos, desde o bilhete do metro à chave de casa. Essas coisas que temos e guardamos podem ser usadas criativamente, além dos materiais tradicionais como papel, tinta cola etc. É um convite para um olhar mais pessoal. Essa geração tem uma ligação muito forte com o computador, e fazem esse trabalho super bem. Mas a ideia é exatamente tirar da zona de conforto para encontrar soluções criativas por outro caminho.

Trata-se de um processo bastante orgânico e artesanal. Acredita que esta é ainda a melhor forma de criar? Como o mundo digital mudou o olhar da produção?
Mudou olhar, mudou o tempo de observação e a busca, mas, sobretudo, houve um aumento da possibilidade de você admitir surpresas e erros no processo — coisa que acaba sendo barrada no mundo concreto, em certo aspecto, porque o processo inclui um planejamento criativo. Se por um lado pode ser positivo, por outro acho que você pode colocar o artista contraditorialmente em uma posição menos espontânea. Por exemplo, uma ideia que venha do Pinterest que a pessoa se apropria e adapta nos moldes dela mesma, sem o envolvimento criativo que representa a melhor parte do trabalho. Foca-se muito no resultado, por isso faz falta esse tipo de abordagem mais experimental. Na arte, quanto mais caótico o ambiente maior a possibilidade de criação? Não sei se existe uma relação direta assim. Mas acredito que se você se encontra em uma situação limite, passa a existir uma necessidade mais intensa de se expressar. Acredito no encontro de alternativas criativas para isso, que servirão como ferramentas fundamentais.

Qual a função social do design para você?
Primeiro, trata-se de uma atividade que é próxima da arte, mas de uma maneira aplicada. Acho que temos no Brasil a necessidade de um design de utilidade pública, que muitas vezes e relegado a segundo plano. As pessoas estudam nos cursos como fazer uma embalagem para uma marca de celular, por exemplo, mas dificilmente trabalharão conceitos para criar uma campanha social qualquer. Então, acho que é interessante trazer isso um pouco à tona. Esse exercício tem um pé no design e um pé na ilustração. Mas acho que a responsabilidade social e crítica é fundamental. O design atua no âmbito da cultura e, por isso, também está ligado à todas as circunstâncias históricas, políticas, etc. Faz parte da sociedade. É importante ter esse termômetro na hora de produzir, em termos de conteúdo e forma.

Certa vez você salientou a importância de “ver o que não existe para criar o próprio caminho na profissão”. Essa sempre foi sua postura? Como é a aplicação disso na prática?
Acho que não existe um manual, mas acredito em encontrar o equilíbrio entre o acaso, a reflexão e o conceito. Você pode ressignificar as coisas que encontra pelo caminho. De repente, por exemplo, um rótulo de um produto pode ser perfeito para que você produza um cartaz a partir dele. Cabe ao olhar pessoal descobrir coisas no cotidiano que já tenham uma carga de informação, e, a partir dela, garantir esse deslocamento. É perceber o que o acaso trouxe para poder extrair algo criativo disso.

Como enxerga o cenário futuro do design?
Acho que houve uma expansão muito grande. O futuro certamente tem uma presença digital intensa e bem-vinda, mas acho que deve ser com um olhar crítico no sentido, inclusive, de subverter a lógica dos softwares. Conseguir trabalhar com essas ferramentas de maneira criativa, caso contrário teremos trabalhos iguais sempre. E, para isso, ter conhecimento do processo analógico ajuda bastante. Estamos vivendo no mundo todo uma retomada de uma condição um pouco mais modrrnista, da Escolar do Suíça, por exemplo, sessentista, uma coisa clean e objetiva. E também, por outro lado, vemos a expansão grande de técnicas alternativas de impressão, de fanzines. O digital permite que vc tenha mais flexibilidade nisso. Você não precisa imprimir um livro ou um cartaz com uma tiragem muito grande, que costuma inviabilizando o trabalho. Dá para fazer com uma tecnologia que propicia a produção mais barata.

Vemos hoje os exemplos das feiras Plana e Tijuana…
Não tinha isso antigamente, cresceu muito. Deve-se à proliferação de impressões alternativas, com equipamentos que permitem isso, como a risografia, laser, coisas que já existem dentro do ambiente digital. A risografia tem um pé no digital e um pé no analógico. Esse ambiente híbrido é muito instigante para a criação. Nessas feiras você vê uma quantidade de produções que têm qualidade estética, gráfica, visual. Existe uma possibilidade de encontrar tribos que você não encontraria em um outro ambiente.

Considera isso uma espécie de popularização do design?
Não sei se popularização, mas democratização com certeza. Existe mais acessos não só com relação aos meios de produção, como também ao que é produzido.