Palestras

5 momentos do Red Bull Music Academy Session com Quantic

29abr

por Red Bull Station

Will Holland é mais conhecido na praça pelo nome artístico Quantic e, embora britânico, aprofundou-se nas produções e na pesquisa da sonoridade latina ao longo da última década de carreira. O índice de rendimento do músico é tão grande que, com apenas 37 anos de idade, já colocou no mercado 17 álbuns –envolvendo projetos como The Limp Twins, The Quantic Soul Orchestra e o Ondatrópica.

De passagem pelo país, esteve no Red Bull Station, em São Paulo, para um bate-papo como parte do Red Bull Music Academy Session neste sábado (29). Ali, Quantic falou sobre sua experiência no universo musical e a busca incessante por vinis que enriqueçam sua coleção, bem como a paixão que floresceu do contato com a cultura latino-americana. Comentou algumas faixas preferidas, colocando-as no toca-discos para que o público pudesse ouvir (do sound system jamaicano ao rock psicodélico setentista vindo do Peru), e revelou um pouquinho sobre o que andou criando durante as gravações realizadas no nosso estúdio durante a última semana. Separamos, abaixo, cinco momentos da conversa.

Criação livre e musical
“Meus pais sempre foram bem cabeça aberta. Minha mãe era cantora e meu pai era um obcecado por banjo e pelo country de maneira geral. Eles não eram hippies, mas pertenciam à geração do folk. Então, cresci ouvindo esses tipos de som. E tínhamos um piano na casa em que morávamos. A mudança maior para mim veio quando eu descobri o Iron Maiden. Pensei: ‘nossa, dá para eletrificar! [risos]’, porque sempre estive habituado aos instrumentos acústicos. Nos anos 90, comecei a entrar em contato com a música eletrônica, e a experiência de samplear me levou para o hip-hop. A partir dali, conheci mais sobre o soul e o jazz.”

Paixão pela latinidade
“É bem difícil conseguir ouvir boa música latina na Inglaterra. A gente acaba tendo contato apenas com os clichês. Se você tem interesse em uma educação musical maior, precisa cavar. Tive a chance de ir para Porto Rico em um festival e passei a conhecer mais sobre os sons da região. Tenho um amigo cineasta que é de Cali (Colômbia). Eu colecionava discos e queria fazer uma pesquisa por lá. Acabei indo e me apaixonando. É uma cidade bastante intensa onde prevalece a salsa. Mas sempre quis fugir do que era caracterizado como coisa de turista, não queria ser o gringo. Um amigo músico resolveu que queria gravar algumas coisas de cúmbia. Convidou 13 músicos. Todos chegaram ao mesmo tempo e foi um desastre a gravação [risos]. Ninguém se conhecia, eu não falava espanhol… Com o tempo, coisas novas foram surgindo.”

Musicalidade plural
“Eu realmente mudo bastante [risos]. Gosto da ideia de reinvenção. Mas, de maneira geral, acredito que existam coisas em comum entre os meus trabalhos, porque sempre me mantenho no contexto de fazer música para dançar e com linhas de baixo marcantes. E gosto do aspecto da melancolia na pista de dança. Não curto muito romantismo e coisas do tipo. Eu não tenho também o costume de ouvir os álbuns que eu fiz. Me dedico a um projeto e não retorno a ele depois de pronto. Não gosto da ideia de ser possessivo. E sobre o meu processo de criação, os discos são sempre reflexo das interações sociais que tenho, das pessoas que vou conhecendo ao longo do caminho. Esse é o meu combustível.”

Sobre apropriação cultural
“Ainda sigo refletindo bastante sobre esse assunto. Há o lado do músico em mim que pouco se importa, que quer trabalhar com artistas do mundo todo, trocar experiências, conhecer estilos diferentes e produzir arte. A coisa da alegria em fazer música. Mas quando falamos da questão mercadológica, existe uma questão a se pensar. Há muitos músicos esquecidos, talentos não reconhecidos. Acho importante que as pessoas revelem suas fontes, que falem de onde aquele gênero pertence, quem compôs aquela canção etc. Há muito interesse europeu em música latina. Bandas de lá que tocam os sons daqui ou da África. Mas eu espero que também haja um diálogo inverso. Que bandas africanas toquem Beatles, por exemplo.”

Gravação no Red Bull Studios
“Durante essa passagem por São Paulo, tive a oportunidade de entrar em estúdio. Gravei por três dias com um time de músicos brasileiros, trabalhando com a sonoridade do Nordeste, que é a minha preferida. Maracatu, forró… Trouxemos um sanfoneiro excelente. Tenho material para um álbum, mas ainda não sei em qual formato essas canções serão lançadas ou quando.”